Presente em Goiás, esta área de conhecimento pode ser uma aliada da agricultura e da engenharia para produzir com sustentabilidade
Originado das palavras inglesas “PERMAnent” e “AgriCULTURE”, o termo Permacultura dá nome a um conceito criado e desenvolvido pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren, nos anos de 1970. Eles criaram um modelo de trabalho, especialmente em relação à agricultura, sempre integrado ao meio ambiente, de forma a produzir recursos suficientes e de forma não predatória. Ao longo dos anos, o conceito passou a ser compreendido como “Cultura Permanente”, ampliando-se para diversas áreas de conhecimento, como a ecologia, biologia, agricultura, engenharia, arquitetura e as ciências sociais. Por aqui no Brasil, esse conceito chegou entre o fim dos anos 1980. Atualmente, é possível encontrar centros de permacultura no Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia.
O especialista em biodesign Antônio Barbosa El Zayek entende a permacultura como a solução ideal e até inevitável para a grave crise de escassez dos recursos naturais que o mundo vive atualmente. “Os parâmetros de sustentabilidade são muito claros na permacultura e se baseiam na manutenção de quatro pilares: entendimento e respeito aos ciclos naturais do planeta – como os ciclos da água, do oxigênio e do carbono, por exemplo; a promoção da biodiversidade local; proteção de solo e combate aos problemas sociais, especialmente a pobreza e as desigualdades. A permacultura enriquece o ambiente e as pessoas quando se trata de qualidade de vida. Você usa as forças naturais em favor da criação de riquezas”, define o especialista.
Sua prática pode ser aplicada em casa por meio de algumas técnicas simples. “O uso de adubo orgânico em sua horta doméstica é um exemplo de aplicação da permacultura. Essa é uma prática mais indicada, pois os fertilizantes químicos costumam poluir as bacias hidrográficas e impactam o meio ambiente de outras formas. Fazer adubo com esterco irá garantir que o solo receba todos os nutrientes que ele precisa. Além disso, você pode fabricar adubos líquidos a partir de resíduos orgânicos gerados na sua casa, como restos de cascas de frutas e legumes, que também são extremamente benéficos”, explica Antônio El Zayek.
Outra técnica bastante utilizada na permacultura é a bioconstrução. “Há técnicas ainda que influenciam no uso da água da chuva e no uso de energias alternativas, preferencialmente renováveis. São apenas alguns exemplos de técnicas que podemos colocar em prática no nosso dia a dia”, descreve Antônio.
Antônio El Zayek destaca ainda que a permacultura pode ser aplicada de outras formas no nosso dia a dia, como na nossa postura de consumo ou na postura política que adotamos em relação ao meio ambiente. “Quando existe uma política de permacultura, as pessoas, por exemplo, consomem produtos vendidos próximo à sua casa. A permacultura gera sustentabilidade. Quando se pensa em permacultura, você pensa também em segurança hídrica, segurança energética, segurança de moradia e segurança alimentar”, ressalta o consultor.
Veterinário por formação, o primeiro contato de Antônio com a permacultura foi no ano de 1995, quando trabalhava com pecuária e já buscava lançar mão de práticas ambientalmente sustentáveis. Ele conta que o conceito da permacultura estava sendo difundido naquele momento, o que o levou a ser convidado para realizar um curso sobre o tema, dentro de um projeto governamental.
De lá para cá, tornou-se um respeitado consultor da área e, mais do que saber falar do assunto, ele passou a praticar ainda mais intensamente os conceitos da permacultura. Escolheu viver no Ecovila Santa Branca, um condomínio horizontal em Terezópolis de Goiás que aplica diversos princípios desta área de conhecimento e foi apresentado como um case-exemplo na ONU Habitat Brasil, um programa da Organização das Nações Unidas (ONU) para os assentamentos humanos e à promoção de cidades mais sociais e ambientalmente sustentáveis.
Casa de 380 metros quadrados que dialoga com a permacultura
Na Ecovila Santa Branca, Zayek construiu uma casa de 380 metros quadrados que dialoga com a permacultura. “Ela foi construída com terra local, todo o adobe foi produzido aqui. Essa terra foi retirada de quatro locais diferentes que se transformaram em quatro tanques para o armazenamento de água da chuva. Ao todo, elas suportam 250 mil litros, que são utilizados durante o ano todo. A residência foi desenhada em função da posição solar. Ela tem um bosque na frente que diminui a incidência do sol na parte da tarde e todas as varandas da casa se abrem para o Sul e para o Leste. As paredes da casa têm 20cm de terra, o que traz uma regulação térmica muito boa. A temperatura demora 12 horas para passar de fora para dentro da casa. Ao todo, elas suportam 250 mil litros, que são utilizados durante o ano todo.
Via de acesso a Ecovila Santa Branca
A Ecovila Santa Branca foi entregue em 2006 e se tornou um case de urbanização com um impacto ambiental positivo, reconhecido pelo Prêmio Crea de Meio Ambiente e por outros prêmios. Ela foi implantada em uma antiga área de pastagem, que foi reflorestada e se transformou em um grande bosque de árvores nativas e frutíferas para os moradores, gerando aumento da biodiversidade. As casas são implantadas em meio às árvores, que garantem um microclima mais ameno. A grande quantidade de árvores e os swales (terraços) aumentaram a significativamente a infiltração da água e, com isto, a disponibilidade hídrica na época crítica. O tratamento de efluentes é feito por meio de Bacia de Evapotranspiração (BET), também conhecida por Fossa Verde. Por meio deste sistema, acontece a digestão anaeróbia (sem oxigênio) do esgoto por meio de bactérias e ainda gera-se alimentos, como a banana.
