A sustentabilidade é de interesse de todos
Por Luís Rogério Veiga Goutier
Presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Eixo Goiânia-Anápolis (ADGA)
O mercado imobiliário vem sendo acusado, historicamente, de promover a especulação e ter unicamente o interesse de lucro na ocupação urbana. Mas basta uma avaliação mais aprofundada para perceber que este raciocínio não é coerente, uma vez que a qualidade de vida é o principal ativo dos projetos imobiliários. Não faz sentido que se destrua o cenário onde eles serão implantados. Frustrar a maior aspiração do consumidor não se alinha com a lógica de mercado.
As empresas de desenvolvimento urbano e as incorporadoras são, na verdade, as maiores interessadas em criar e preservar ambientes que gerem bem-estar. São as fiéis cumpridoras de toda legislação de ocupação urbana, seja no âmbito das regras urbanas, seja nos aspectos ambientais ou documentais. São elas quem vem ajudando as cidades a implantar parques e praças, muitas vezes assumindo o custo da obra.
A prática contrária vem de quem opera na clandestinidade. São contraventores sem compromisso com as pessoas, com a cidade e com o meio ambiente. Loteiam áreas sem qualquer critério. Não investem na infraestrutura, em medidas de preservação ambiental, na segurança jurídica para quem compra o lote. Cobram menos, e muitas vezes usam este fato para se intitularem como benfeitores sociais, mas omitem que tem lucro bem maior do que um empreendedor que segue a lei – uma vez que não têm custo algum.
Esta foi uma realidade que cresceu nos últimos anos da Área de Proteção Ambiental (APA) do João Leite, Com 72.128 hectares, ela engloba sete municípios: Goiânia, Nerópolis, Goianápolis, Anápolis, Campo Limpo, Ouro Verde de Goiás e Terezópolis de Goiás – este último tem 100% de seu território dentro da Apa. É nesta região que estão o Parque Altamiro Pacheco e o reservatório do João Leite.
Na Apa do João Leite, o número de ocupações clandestinas aumentou assustadoramente durante o período de 10 anos em que era proibida qualquer ocupação na área. Enquanto o mercado formal, que pauta-se pela legalidade, absteve-se de desenvolver qualquer atividade, os operadores clandestinos, que não se importam com o coletivo, avançaram.
É por isso que Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Eixo Goiânia/Anápolis (ADGA) considera que o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do João Leite, aprovado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) em 2019, foi um importante avanço.
Técnicos, Ministério Público, sociedade civil, todos discutiram normas e limites para uma ocupação responsável na região. Com exceção das zonas de Conservação do Reservatório João Leite e a zona de Preservação da Vida Silvestre, os estudos apontaram que era possível a ocupação de outras áreas seguindo critérios específicos.
Onde a natureza é intocada, a fiscalização é dificultada e a ocupação clandestina acaba acontecendo. Por outro lado, experiências em outras regiões do País e do mundo, apontam que a ocupação controlada traz pessoas, que são importantes no processo de preservação ambiental. Estes moradores tornam-se os guardiões do local. Além disso, existem tecnologias de uso e conservação do solo, como os swales, tratamento de efluentes por osmose reversa, entre outros, que devem ser associadas à implantação de projetos.
A ADGA foi formalmente criada em 2014, congregando empresários que acreditam que é possível levar progresso de forma sustentável para o principal trecho da BR 153, onde concentra-se quase um terço do PIB do Estado quando consideradas as cidades de Goiânia e Anápolis.
Somos integrantes do Conselho Consultivo do plano de manejo da Apa do João Leite, e estamos atuando ativamente para contribuir com a educação ambiental e o desenvolvimento de projetos alinhados com a preservação de nossos recursos naturais. A riqueza ambiental da nossa Apa é nosso maior tesouro e sua perenidade depende da consolidação de uma nova mentalidade acerca da ocupação sustentável.
